quarta-feira, 14 de novembro de 2012

- E Se O Amor Já Chegou?


Eles tinham aquela mania de não admitir a falta um do outro. Era um orgulho pesado, desses que machuca tudo por dentro, mas por fora fica só a aparência de que nada aconteceu. E ficavam assim por dias, semanas, às vezes, até meses sem se falar. Até que não suportavam e ligavam um para o outro, com aquele tom informal de "Oi, tudo bem?" e com o peito gritando "Meu Deus, como eu senti a sua falta!". Ouviam a voz um do outro e passavam o resto do dia sorrindo, às vezes, semanas. Combinavam um jantarzinho de amigos e terminavam de mãos entrelaçadas, meio trôpegos pelo vinho, caminhando no meio da rua e fazendo confissões que nenhum dos dois lembraria depois. Sofriam de amor não admitido. E depois voltavam pra casa com um "Obrigada pela noite!" e reiniciava-se o ciclo de orgulho. Um sem querer admitir que precisava do outro pra ser feliz, pra estar completo. Os dias ficavam sem graça, e quando chovia, o telefone nas mãos com o número discado não conseguia apertar para chamar. Para chamar pra mais perto, por mais tempo. Ela tinha medo de que ele fosse embora como os outros, apesar de saber que não. E ele? Bom, ele nunca fora de acreditar muito em sentimentos dessa intensidade, apesar de saber que não havia nada além de amor dentro de si. Conheceram-se numa livraria, na ala dos livros de auto-ajuda. Ela querendo ser mais poderosa (depois do fim de um relacionamento), ele querendo ser menos tímido (atrás do início de um). Não se notaram. Apenas viram-se quando ambos pegaram o mesmo livro, algo como "E se o amor não chegar?". Entreolharam-se e riram, decidiram tomar um café e trocar telefones. Desde então só têm trocado. Beijos, abraços, palavras, confissões. As conversas duravam horas, e a conta do celular no fim do mês era motivo de uma gargalhada dolorosa. Pensaram um no outro por dias, semanas, meses. E se o amor já chegou? Perguntavam-se, mas sempre sem disponibilidade para pensar mais que dois segundos no assunto. Ficaram nesse romance mal resolvido, naquela tão clichê "amizade colorida" de que todos sempre falam. Nunca colocaram nada em pratos limpos. Vezes infelizes, vezes felizes, era assim que viviam. Nunca saciados por completo, pela maldição do orgulho. O orgulho que mais prejudica que ajuda, como citei no começo. Esta noite vão deitar a cabeça no travesseiro, pensando um no outro. E ficarão assim por dias, semanas, às vezes até meses. E enfim virá o próximo "Oi, tudo bem?" e o ciclo recomeçará. Mas, acredite, não há um que não diga que é amor. Porque os sintomas são claros e explícitos. Apesar de meio do avesso, meio do contrário. Só pode ser amor.