Ela dirigia por aí enquanto
sentia o vento bater no rosto nu. Fechava os olhos. Pensava nele. Abruptamente
recriminava a sensação. Mas ele tinha aquela coisa que nem ela sabia direito o
que era. Só sabia que queria desesperadamente se jogar naqueles olhos. Os
mesmos olhos que passavam pela mente dela várias vezes durante o dia. Ela amava
sentir aquilo. Ela odiava sentir aquilo. Ela não queria sentir. Não podia
sentir.
O trânsito começava a engarrafar
e a luz vermelha do carro da frente irritava os olhos dela. E a boca vermelha
dele incitava o coração. Ela vivia tamanha agonia. Sem ar, recitava para si
mesma: "Eu quero sem querer te querer". A mente dela reverberava o
som da voz dele. Ela queria tanto, com todas as forças superar aquilo. Mas não
estava dando certo. Ela amava querer ele. E odiava o dobro.
O carro andava a míseros 14 km/h
e ela pensava no quanto queria confessar a ele tudo aquilo o que andava
sentindo. Ela fechava os olhos. Não queria estragar tudo. Só queria ele por
perto, seja como fosse. Mas ele tinha aquela coisa que nem ela sabia
direito o que era. Só sabia que queria desesperadamente beijar aquela boca. Suspirava.
Ela sabia que ele era precioso
mesmo que nem ele mesmo soubesse isso. Mas era aquela coisa, a gente aceita o
amor que acha que merece e ele achava que não merecia sequer receber amor.
Solavanco abrupto do carro da frente e um susto que interrompeu seus
pensamentos.
Alivio. Esses pensamentos levavam
a uma neura sem fim. Aumentou o som. Celular vibrou. Era ele. Ela sorriu. Amou
sorrir. E odiou fervorosamente logo em seguida.
Malditos sejam os sentimentos não
correspondidos.