quinta-feira, 11 de novembro de 2010

- Passado


Ela tinha ido passear, ou melhor, vagar por aquela cidade intensa e movimentada e deu de cara com ele, deu de cara com todo o seu passado que era ao mesmo tempo alegre e triste, maravilhoso e cruel, feliz e infeliz; as contradições de seu passado estavam todas ali, na sua frente. Mas seu coração não disparou, suas mãos não suaram, suas pernas não ficaram tremulas, não houveram arrepios e ela soube exatamente o que falar. Quando educadamente o cumprimentou, o toque de seus corpos já não fez mais com que uma onda elétrica surgisse de repente; Depois de algum tempo conversando ela viu que ele não passava de um amigo agora. Seu coração se encheu de esperanças.

Ela teve a certeza de que tudo passa, de que por mais que demore e doa muito, passa. Ela teve certeza de que o coração que ela carregava dentro do peito pertencia a outra pessoa, ela conheceu o amor verdadeiramente, por mais que o mesmo estivesse escapando por entre seus dedos agora. Ela teve certeza de que ele só havia percebido o valor dela depois de tanto fazê-la sofrer, depois de perde-la para sempre, pois seus olhos brilharam como duas estrelas gigantes em uma noite escura quando ele a viu. Ela se despediu, mas ele não largou sua mão.

- Tenho mesmo que te deixar ir denovo? - Ele sorriu tentando persuadi-la, como costumava fazer sempre. Ela sorriu e depois baixou os olhos.
- Você não me deixou ir, você simplesmente se despediu de mim. - A expressão no rosto dele mudou completamente, ele entendeu do que ela estava falando. Ele entendeu que as feridas que ele a causou, a transformaram em uma pessoa fria.
- É muito difícil entender que você perdeu algo quando já não se tem como consertar. - Ele disse baixinho enquanto baixava a cabeça.
- Quer um conselho? Tudo passa. Foi você mesmo quem me ensinou. Agora eu tenho que ir, foi bom ver você.

Ele largou sua mão e a deixou ir. Ela seguiu seu caminho, seguiu sua vida e satisfeita percebeu que por mais que ele tivesse feito grandes e horríveis cicatrizes no seu coração ela havia sido capaz de suportar toda aquela dor. Porque não poderia fazer o mesmo agora? Ela seria forte mais uma vez, por mais difícil que parecesse ser.