Levantou-se, e
como quem não queria nada, deu uma olhadinha na tela do aparelho-escravista o
qual chamava de celular. Não sabia bem o que esperava, mas esperava por algo.
Um “bom dia” ou quem sabe um “que saudade de você”. E nem sabia o porquê de
esperar algo tão piegas, já que passava metade do seu tempo tentando convencer
a si mesmo que ela não estava nem aí. E, realmente, ela não estava.
Ainda assim,
cativava este sentimento de fazer as pernas bambas como se fosse o último
brigadeiro do aniversário. E sabia que era só por gostar da sensação de ter seu
coração descongelado depois de longos meses da nevasca em que o
antigo-eterno-amor havia deixado. Não queria se declarar a nova garota, muito
menos desejar-lhe amor eterno, mas gostava da sensação das borboletas no
estômago todas as vezes que ela lhe olhava, ou da maneira que seu rosto enrubescia
sem motivo aparente.
Gostava de vê-la
falando coisas aleatórias, ou o modo que ficava acuada no canto concentrada
enquanto as outras pessoas falavam durante as grandes reuniões. Gostava do seu
cabelo, gostava do sotaque de quem veio acolá do Brasil, gostava de toda aquela
fúria que existia como uma capa para proteger o coração enorme que ela
carregava. Gostava da boca dela e daquele corpo todo certinho.
E, mais do que
tudo, gostava da maneira que ela o fazia sentir: nas nuvens. Ela tinha aquele
efeito dopante que o fazia ficar ansioso por mensagens que jamais
iriam chegar, ou o fazia ouvir músicas só para lembrar dela. Tinha vontade de
tocá-la, cuidar, mimar e dar todo o carinho do mundo. Ela o fazia sentir vivo,
como se não fosse um caso perdido nas teias dos relacionamentos.
E apesar de a moça não fazer a menor ideia disso ou não fazer questão nenhuma de ter estes
presentes, ainda assim ele se sentia feliz em querer oferecer isto a alguém. Por
mais agonizante e confuso que isso possa parecer.