As mãos estavam trêmulas segurando o celular. A escuridão e o chão gelado de seu banheiro, sua proteção. Seu choro inconsolável, incessante. E ela estava ali, tão frágil quanto nunca esteve. Desta vez, não havia um motivo aparente. Era só dor, em cada pequena parte escondida de seu corpo doente e pálido. Tremia no chão de mármore, coração sacolejando junto. Não era frio. Era só dor, em cada pequena parte do seu corpo esguio. Os olhos ardiam, vermelhos com a fúria das lágrimas. Digitou o número da única voz que poderia fazer aquilo passar.
-Alô? - Sua voz saiu embargada, rouca e trêmula. Do outro lado um grande nada. Sem barulhos, sem rangidos de porta, nem sequer um grilo para cantarolar. Ele respirou fundo antes de respondê-la.
- Quem fez isso com você? - Ele respondeu. Com a doce voz de preocupação de quem acordara no meio da madrugada para o inútil fim de consolar uma dor sem motivos.
- Ninguém. - Ela respondeu, monossilábica. - Me desculpa, não queria te acordar. Mas não consegui pensar em mais ninguém pra fazer isso passar...
- Sabia que estas estrelas no céu hoje me disseram que o seu brilho é tão incrível que é capaz de cegar quem olha lá de cima? - Ela sorriu. - Acho que ainda assim eu não vou aguentar não te observar. Do que vai adiantar essa visão de merda se eu não puder cuidar da minha pequena? - Desta vez, gargalhadas. Ele tinha o dom.
Vagarosamente, entre todas as palavras aleatórias que ele ia dizendo, seu choro cessava. Apesar de tudo, não queria sair do seu cantinho. Ele cantou para ela até ter certeza de que dormira. Quase um anjo. Chegava a ser engraçado o impacto que ela causava nela. Como morfina, quando fechara os olhos, ela já não sentia mais nada. Apenas paz.