A pior parte de se despedir é ter que o fazer todos os dias, ser forte pra não
precisar, pra não querer. Dizer tchau é
fácil, difícil é ir, deixar ir. Não lembrar quando se tem
alguém por perto é normal, impossível é se pegar sozinho num dia de chuva e
dizer que esqueceu. Não vou negar, sinto sua falta, preferia não
sentir, mas, ainda sinto. Vai crescendo, entende? Numa
proporção que assusta, que amedronta, que dói. Eu queria ser independente o
bastante pra não ter aquela velha necessidade de te ter aqui, aquela velha
mania de chegar em casa e te ligar, aquele velho carinho de te ver na rua e ir
te abraçar. Vontades. Elas sempre fodem, né? Por que eu tenho vontade de ir até a sua casa e dizer que sinto
sua falta, que isso não muda, que não para. Tenho vontade de te
ligar de madrugada e admitir que to com medo, ansiosa, com vontade de chorar. Tenho vontade de te gritar e você vir correndo, mas, são só vontades. Vontades
essas que me doem dia após dia, como uma sequência de pancadas que nunca
sessam, só aumentam. Ontem foi difícil sem você, hoje também é e
amanhã ainda vai ser. Uma hora passa, eu me esqueço, começo a rir e
a me desprender. [Kimberlly Cavalcante]