sexta-feira, 4 de novembro de 2011

- Fantasia



Quatro da manhã. Ela estava sentada no chão, em meio a anotações e fotos que já não via fazia algum tempo. Seu copo vazio estava largado no chão, enquanto seu corpo permanecia esparramado no carpete. Estava tão vazia, que podia sentir o ar brincar dentro de seu peito. Haviam meses que não se sentia assim, mas de alguma forma, aquela melancolia havia vindo junto com a chuva. As gotículas escorriam no vidro da janela, mas a enxurrada acontecia no seu coração. Depois de muito tempo, ela não se sentiu capaz de cuidar de si própria. Queria colo, queria carinho, queria amor. Queria se sentir importante de verdade pra alguém, se sentir importante para si própria. Queria alguém que ligasse e perguntasse "ei, você já comeu" ou "levanta daí e vai tomar um banho", mas faziam muitos dias que seu telefone sequer tocava. Cansou de cuidar dos outros e esquecer de si, cansou de verdade de ter que ser forte o tempo todo e só queria chorar e chorar, como uma criança. O sol nasceu, impondo seu brilho, forçando-a a se recompor. A luz doeu em seus olhos marcados por círculos roxos. Insonia havia virado a sua mais aconchegante companhia. Levantou-se e vestiu a fantasia de inquebrável. Começaria mais um dia.