terça-feira, 20 de setembro de 2011

- Desalmada


Estava doendo mais do que as expectativas. Muito mais. Ela sinceramente não esperava aquilo tudo desmoronar dentro de si, não esperava chorar tanto. Mas a acidez de suas próprias palavras a tinham machucado. Que ser humano inútil este que consegue ferir a si próprio e a todos que estão ao seu redor? Que consegue afastar, que consegue magoar? Tão desprezível quanto ratos jogados na sarjeta. E aquilo ia doendo, doendo, doendo. Cada vez mais fundo. E ela repetia “Vai ficar tudo bem”, “Eu fiz o melhor”, desesperadas vezes. Infinitas vezes. Só pra ver se passava, pra ver se curava aquilo que tinha se aberto dentro de seu peito. Repetia mais tentando convencer a si própria do que aos outros. E articulava os mais diversos sorrisos, mas não funcionava. E ela voltava a chorar, chorar, chorar. Feito uma criança com fome. Mas não passava. Ela se atirou em meio aos lençóis, tentando fugir de si. Impossível. Ela estava com nojo, com dor. Seu corpo estava dormente, seus olhos fechados e ela só conseguia pensar “Vai passar, vai passar”. Não conseguiu dormir, não conseguiu sonhar. Só sabia dizer “vai passar, vai passar” como um gravador programado. Como um vazio articulado. Como um material desalmado. Desalmado.