sexta-feira, 5 de agosto de 2011

- Bagunça


Se olhou no espelho, percebendo estar tudo em ordem. Cabelos bem alinhados, maquiagem bem feita, mas lamentava por aquela ser apenas a imagem exterior que o espelho lhe exibia graciosamente. Sabia que por dentro estava tudo uma completa bagunça, e odiava a cada segundo se sentir assim tão vulnerável. Bastaram algumas frases doces para que uma série de pensamentos fossem desencandeados em sua cabeça. Ela sabia que seu coração não deveria acelerar, e seus pensamentos traiçoeiros não deveriam considerar tais hipóteses  de que tudo poderia dar certo, elas já deveriam estar mortas a muito tempo. Essa esperança toda que ela nem sabia que existia dentro de si não deveria estar ali. Ela já havia se conformado com a idéia de tocar a sua vida, de não se importar, de tratar aquelas lembranças como o passado que nunca iria voltar, e só seguir em frente. As coisas se encaminharam e estavam realmente dando certo. Porém, nas entrelinha do não se importar, do não sentir, ela se pegou fazendo tudo diferente do planejado. O que mais a irritava era o fato de saber que em cada pequena palavra dita naquela noite havia uma sinceridade diferente, como se fossem palavras cuspidas de dentro do coração. Mas ainda assim se sentia caindo em uma cilada na qual tinha medo de nunca conseguir se desvencilhar, fazendo-a sentir as mãos suadas, o coração acelerado e as borboletas no estômago. Precisava ouvir ele dizendo tudo ao contrário, assumir cada mentira doce que havia falado. Ou só confessar que estava bêbado e tinha trocado algumas palavras. Ela precisava voltar a ter a paz rotineira que a monotonia de seus dias lhe oferecia. Ela precisava se olhar no espelho e ver o cabelo desgrenhado, a cara limpa, mas ter a tranquilidade que dentro de si as coisas estavam mais organizadas do que nunca.