sexta-feira, 22 de outubro de 2010

- Abstinência

Ela tinha tudo o que uma pessoa feliz tinha. Carros, casa, mãe atenciosa, notas boas, reputação boa, escola boa, mas ainda assim ela se sentia incompleta. Era como se aquilo não fosse o suficiente, estava faltando uma parte. Deveria bem ser o pedaço que ele tinha levado, quando ela o mandou ir embora. A garota se contradizia em pensamentos, era feliz e triste, era vazia e completa, era corajosa e tinha medo, era forte e frágil. Aquilo estava deixando-a louca, com o alguém não pode entender a si próprio? Ela pensava.
Talvez ela estivesse se fazendo de vítima, talvez nem fosse tudo tão ruim realmente, afinal tudo tem o seu lado bom. Mas ela não conseguia ver o lado bom de tudo aquilo. Era como se aquele não fosse mais o seu lugar, se sentia perdida em um mundo onde ninguém poderia entrar além dela mesma. Ela insistiu vária vezes em tentar achar as feições dele em outros rostos, algo que a consolasse, mas não adiantava. Os pensamentos bobos dela a respeito da vida a faziam sorrir de vez em quando. Ela não queria mais abraçar ninguém, queria ficar sozinha o máximo de tempo que conseguisse, e o que era aquilo? Ela nunca tivera sido assim. Acho que o vazio enlouquece as pessoas, acho que a solidão enlouquece as pessoas. Mesmo no meio de tanta gente, ela ainda se sentia só. Ela tentava aproveitar cada segundo do seu dia, fazendo coisas úteis, ocupando sua mente, mas a noite era muito traiçoeira. Ela abraçava seu urso de pelúcia o mais forte que conseguia, se debatia na cama durante horas e lutava contra a insonia, até que enfim ela cansava e dormia. Ela iria melhorar, a abstinência iria passar. Essas eram as últimas esperanças.