Não, não fica me dizendo que quer
meu bem, que me deseja toda a felicidade. Engole esse discurso furado e fala de
toda essa malícia que você guarda nos olhos todas as vezes que me vê. Não fica
parado aí do outro lado com um desses teus risos frouxos estampado na cara.
Atravessa esse corredor e deposita teus beijos quentes na minha boca, no meu
pescoço, nos meus ombros e no meu corpo inteiro. Não brinca com esse copo
enquanto me escuta falar, mas faz tudo isso que está passando pela tua cabeça
enquanto você evita os meus olhos. Não me escuta. Me cala com pressa, com
calor.
Arrepia minha nuca. Enlaça teus
dedos nos meus cabelos. Mas, por favor, não fica movendo esses lábios de
maneira tão graciosa como se não soubesse o que fazes comigo. Para de me
interpretar com todo esse sentimentalismo barato, de poetizar as minhas
atitudes, de romantizar a carne como se eu fosse um livro que você já sabe o
final. O que eu quero mesmo é pele, meu bem, a tua pele na minha. Não fica me
observando com paciência. Me faz fechar os olhos enquanto falas ao pé do meu
ouvido todas aquelas coisas que ninguém deve saber. Não mede as palavras, não
pensa nas palavras, só diz.
Arranca a minha roupa com a
urgência de quem não sabe quanto tempo vai durar a vida. E o resto, amor, o
resto deixa pra depois. Não se priva de tudo isso que consome o silêncio entre
nós como fogo. Explosão. Vem aqui, olha o que tem por trás dessa boca pintada
de vermelho, desses olhos delineados e desse perfume doce. Nem tudo se trata de amor, meu bem. Às vezes é só desejo daquilo
que não se tem.