quarta-feira, 25 de abril de 2012

- Doente


Debaixo das cobertas, seu corpo inteiro tremia com os calafrios que a febre lhe causava. Era engraçado vê-la tão frágil e pálida sobre aquela cama, exibindo um sorriso abatido, tentando convencer a todos que estava melhor. Não estava. Tinha vontade de chorar vinte e quatro horas por dia. Adoecera por falta de atenção, de carinho, de colo. Falta de alguém que se importasse de verdade e estivesse ali para estendê-la a mão e dizer "não não, hoje é o seu dia de receber alguns cuidados". Orgulhosa e precavida demais para admitir a dor, mostrava a todos os dentes brancos, tentando simular uma gargalhada, mas tinha lágrimas nos olhos. Quem dera se ao menos um quarto das pessoas que cuidava quisessem cuidá-la também. Fartava-se de remédios: para febre, para a dor de cabeça, para o sono, para o frio... Faltava apenas o remédio pra curar a solidão, que entenda, era o que realmente estava a incomodar.