É que ela talvez fosse mesmo assim e não há nada que a
fizesse mudar, eu digo a menina tem mania de perfeição, ela precisa ser
perfeita, parece que não aprendeu que nada nesse mundo é perfeito e que nem ela
poderia ser. O cabelo nunca estava realmente arrumado, o corpo nunca realmente
bom, a persistência era tanto que a fazia adoecer… Entende o que eu digo? Ela
adoeceu da doença da perfeição. Ser boa nunca bastava quando ela podia ser a
melhor. E ela era a melhor muitas vezes, em muitas coisas, mas não era o
bastante se não fosse em tudo. Recebia muitos elogios, era automático na ponta
da língua o obrigado, fazia inveja, sempre fora tão bonita, mas ser bonita
nunca lhe bastaria se não fosse sempre a mais. Orgulho de pedra, não admitia um
erro sequer! Admitir o erro seria como aceitar que era imperfeita. Nariz
empinado e estava sempre certa, discutia e argumentava, estava certa mesmo
estando errada. Coitada, não sabia que é errando que se aprende, então nunca
aprendeu e talvez nunca aprenderá, ficará por ai tentando ser o que não pode ou
tentando ser o que não é.